domingo, 1 de março de 2009

TEXTO INAUGURAL



O que é a astrologia dialógica?


Antes de apresentar o que compreendo por “astrologia dialógica*” é preciso que tenhamos em mente que não devemos olhar a astrologia como fonte de adivinhação ou determinação dos fatos de maneira fatalista.

O SISTEMA ASTROLÓGICO: é como uma orquestra. Seus diversos elementos são instrumentos que ditam e tocam a partitura. Como a música, todos os elementos criam ressonâncias uns nos outros, compondo assim uma sinfonia: música.

Assim como na música não há uma única maneira de ouvi-la, pois, podemos nos atentar para cada instrumento em execução isoladamente, tentar ouvir o todo (e mesmo assim priorizar determinado compasso, comparar diferentes instrumentos etc.), ou mesmo realizar uma verdadeira análise harmônica. Na astrologia podemos realizar semelhante percepção.

Os astros são efêmeros em suas posições. Como as notas, seguem uns aos outros, e vão variando de posicionamento entre si, criando vibrações harmônicas distintas e únicas, proporcionando ritmos, vibrações e temperamentos.

Mas quando pensamos em um mapa natal (mapa astral), temos nele uma partitura pronta e fechada em si mesma, que, entretanto, passa a ser orquestrada e interpretada por seu agente: a pessoa em questão.


Para compreendermos o pensamento astrológico, devemos entender que a astrologia olha o cosmos do ponto de vista do planeta terra, e em última análise, a astrologia não trata dos astros; mas sim do homem que vive na terra, inserido na totalidade cósmica.

O Homem pertence ao “quadrado ontológico”: o céu, a terra, os deuses e o homem. Seu papel é interpretar sua própria existência, em constante e viva troca com o cosmos, participando de seus processos cíclicos.

O transito dos planetas ao redor do sol percorre uma elíptica que transcorre os doze signos. No entanto, as divisões em 12 signos de 30 graus do circulo do zodíaco não tem nenhuma ligação direta com as constelações, mas referem-se à trajetória do sol.

As constelações de estrelas fixas/signos (pelas quais percorrem os planetas) não correspondem aos signos do zodíaco. Suas proporções são desiguais, e nem sempre se encontram em um posicionamento exato. Mas se olharmos para o céu, encontraremos todas constelações que dão nome aos signos.

A influência dos signos se dá, na realidade, por conta da trajetória do sol, que passa pelos pontos cardinais (equinócios e solstícios), independente de estar exatamente na constelação referente a determinado signo. Poderíamos dizer, então, que não são as constelações que emitem as qualidades dos signos, mas sim o transito solar através da trajetória destas constelações fixas.
Mas então, como foram determinados os signos?

Quanto à determinação dos signos, devemos relembrar o que foi dito logo acima: a astrologia trata do homem e sua consciência. Portanto, os signos referem-se muito mais à projeção humana no cosmos de seu próprio mundo, que efetivamente das constelações. Esta projeção retorna ao homem em um diálogo para o próprio homem. É um processo de emissão e recepção, invocação e evocação.

Assim, a divisão do zodíaco não se origina somente no céu, mas também na imaginação da humanidade. Portanto, do ponto de vista esotérico, a astrologia é relacional, criado pela própria humanidade.

Desta maneira, podemos afirmar que a astrologia reflete a vida do homem imerso em sua condição primária de nossas psiques (pensamento e sentimento). Enquanto nosso ser espiritual permanece livre e intocado da influência astrológica. Pois nós temos um mapa natal, mas não somos ele.

No entanto, é através das vibrações planetárias que o homem avança em seu desenvolvimento espiritual, pois as influências dos signos e planetas continuam reais para humanidade.

Somos o microcosmos do macrocosmos. No centro do circulo zodiacal, ao redor do qual estão dispostos os planetas que percorrem pelos signos, realizamos nossa existência. O pensamento ocultista tradicional localiza a liberdade humana num nível que transcende o psicológico, atribuindo ao psiquismo a tarefa de relacionar-se com a existência (mapa natal).


Temos agora, então, mais uma dificuldade para compreender o pensamento astrológico: como é possível a astrologia ser dialogal, mas ainda assim ter conceitos fixos (signos planetas e casas terrenas)?

Se os signos, planetas e casas, a princípio, podem ser vistos de uma maneira que nos parece pouco humana, ou seja, mecânico/fatalista; e nosso mapa natal é a expressão da composição destes componentes e sua configuração, temos que admitir o seguinte princípio:

O psiquismo é muito mais um elemento reativo e mecânico que criativo, e é justamente através de nossa composição, dos componentes e configurações de nosso mapa, que nos aproximamos da natureza.

Assim, os tipos de movimentos representado nas qualidades dos signos, planetas e casas terrenas, se correspondem a natureza (mineral, vegetal, animal e hominal); e esta é a base para todo tipo de correspondência entre a astrologia e os seres

Nos homens, os diversos tipos de movimento não ocorrem, na maioria das vezes, de forma evidente, pois há outros fatores em jogo em sua existência.

O Homem está situado entre duas rodas, a roda do destino e a roda do livre arbítrio, e, a princípio, não pode ditar a partitura dos astros. Mas se quisermos, atuando ativamente no auto-conhecimento de si mesmo, através da leitura de sua própria carta natal, podemos aprender a ler nossa “partitura”, e assim, reger co-ativamente nosso próprio mapa natal.

Todas as idéias aplicadas à interpretação do mapa natal mostram que o psiquismo humano é mecânico, em sua maior parte, e que tem leis e movimentos definidos. Desta maneira, podemos afirmar que o psiquismo não é tão subjetivamente indefinível como se poderia desejar ou imaginar. – o mapa astrológico dá uma visão bem organizada sobre o psiquismo de cada indivíduo, ao menos em sua maior parte.



Estas idéias expostas até aqui revelam duas maneiras de lidar com o psiquismo humano. Uma que entende as reações do psiquismo como mecânicas; e uma segunda que envolve a transformação da reação psíquica. Isto porque os signos, planetas e casas terrenas são fixos em sua maneira de ser, mas a base em que se assentam (seus fundamentos e constituição) trazem um potencial transmutativo, que liberta a astrologia da sina de oráculo de adivinhação, e a coloca como um conhecimento relacional. E é isto que chamo de astrologia dialógica.

A visão mecânica e matemática da astrologia facilita uma definição racional de sua natureza, mas o pensar astrológico não é nem lógica científica, nem é feito de analogias poéticas ou metáforas. Não se deve abordar os signos, planetas e casas como conceitos psicológicos. O pensamento astrológico faz sim o uso de segmentos lógicos, de valores analógicos e conceitos psicológicos, mas não se resumem ou identificam-se com estes. O pensamento astrológico tem uma visão mais universal do que estas.

O mais importante no contato com astrologia é formar uma mente astrológica. Decorar e estudar sua parte analítica são de fundamental importância, mas a mente astrológica não separa nem divide; surge da intuição e compreensão não-racional da interação do “Um-Todo” com tudo. Ao desenvolver a mente astrológica, a pessoa torna-se um astrólogo, modificando sua percepção da existência.

Sem uma compreensão dialógica da astrologia, a pessoa está fadada a utilizar-se das informações astrológicas com parcialidade, para dar vazão pessoal de sua própria visão da vida.

Para tornar-se um astrólogo é necessário possuir uma percepção astrológica de si e do mundo; isso consiste em deixar de ver as coisas segundo a própria percepção subjetiva em nome da compreensão de que existem outras maneiras de viver e experienciar a manifestação, sendo capaz de entender outras maneiras de expressão de vida.

Assim, para tornar mais claro o conceito de astrologia dialógica, temos que ter ciência de que os fatores psicológicos em jogo são mutáveis e não absolutos, em uma diversidade infinita de composição, gerando diferentes coloridos e temperamentos.

A astrologia dialógica convoca a manter-nos aberto aos conceitos astrológicos, sem reduzi-los a conceitos fechados e reduzidos, como também, a nos atentar para a composição singular de um mapa natal.

Por tudo isso, não podemos realizar uma verdadeira leitura de qualquer mapa natal sem estar em diálogo com o individuo para o qual será realizado a interpretação do mapa. Pois, é de fundamental importância considerar seu modo de ralação com a vida e seu mundo.

4 comentários:

  1. muito bom...queria saber mais sobre as qualidades de cada elemento(fogo,terra,água e ar)

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  2. Interessante o texto, mas preciso me familiarizar como o novo vocábulo. Um abraço.

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  3. Muito interessante a abordagem a astrologia.É uma nova visão ainda não divulgada,e com certeza será ainda objeto de muito estudo

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