quinta-feira, 12 de março de 2009

ÉDIPO: o homem e a astrologia

Trago a tragédia de Édipo rei para proporcionar uma reflexão a respeito do homem e sua relação com a trajetória zodiacal. Assim poderemos, também, refletir sobre o mapa astrológico.

Mas para isso, vamos direto ao destino do herói. Édipo, filho de Laio e Jocasta, teve seu destino previsto pelo oráculo: “matará seu pai, desposará sua mãe, e seu reinado será amaldiçoado.”.

Diante de tal profecia, seu pai toma uma atitude radical; matar seu próprio filho. No entanto, sua mãe não podia aceitar tal sacrifício e entrega seu filho a um serviçal, para que este o levasse para longe.

Édipo foi achado por um pastor. Este seguiu sua jornada até chegar a uma cidade distante, na qual, foi adotado pelos reis desta, pois sua rainha não podia ter filhos.

Ao crescer, Édipo consulta o oráculo e escuta seu destino. Decide então abandonar a cidade para fugir de sua tragédia, tomando em suas mãos o rumo de sua história.

A tragédia de Édipo nada tem a ver com a psicanálise, é necessário dar a palavra aos helenistas (Jean-Pierre Vernant e Pierre Vidal-Naquet) para descobrir o que constitui e move a tragédia. Estes autores nos mostram que em seu drama, Édipo é ao mesmo tempo vítima e autor de sua história.

Sua vontade obstinada, seu desejo de conhecer a verdade não o livra de descobrir, ao fim da tragédia, que do princípio ao fim ele foi um joguete de seu destino. E, no momento em que se reconhece como autor responsável de sua desgraça acusa os deuses de terem tudo preparado.

Aqui temos uma boa abertura para reflexão da relação entre o mapa natal e o indivíduo que o carrega. A configuração de um mapa é um destino a cumprir, do qual podemos nos alienar e distanciar por “vontade própria”; mas temos que estar ciente que os deuses nos cercam, e a todos os momentos somos cobrados (influenciados por nosso mapa natal) a realizar nosso destino.

Édipo esta tentando o tempo inteiro apropriar-se de suas ações, assumir a responsabilidade perante elas, para descobrir, no final, que nada mais fez do que cumprir o seu destino – uma necessidade imperiosa.


Mas a tragédia de Édipo trás a tona outra reflexão sobre o mapa natal e o indivíduo. A intersecção de dois discursos: o discurso humano e o discurso divino.
O homem inicialmente sofre as influências de seu mapa, mas, como em uma “adolescência”, em uma contestação (colocando-se contrariamente aos desígnios assinalados no mapa natal) pode seguir um rumo apartado de sua origem. Assim, neste momento, as duas falas serão distintas, mas irão se sobrepondo até que, no final, o discurso humano contraria a si mesmo.

Podemos voltar à tragédia de Édipo e ver que, mesmo tentando fugir da profecia do oráculo, buscando seguir um rumo distinto do professado, Édipo acaba realizando seu destino, pois, desconhecia sua verdadeira origem. E, ao seguir um rumo que o levasse para longe de seus pais, acabou, na verdade, por entregar-se a sua tragédia.

Para aprofundarmos o entendimento da relação entre o homem e a astrologia, devemos pegar a etimologia do nome de Édipo.

Édipo significa o de “pés inchado”. Isto porque foi pendurado pelos pés em uma árvore (permanecendo de ponta-cabeça). – temos aqui nosso nascimento: separados do Todo (Peixes - pé) tomamos corpo individual (Áries - cabeça) e nascemos. Chegamos a este mundo de ponta-cabeça. Em algumas tradições, este mundo representa o ‘mundo de cima’ de maneira invertida.
Se o primeiro signo do zodíaco (Áries) representa a cabeça, permanecemos sem consciência de nossos pés (Peixes – origem). Assim, a tarefa do homem é percorrer os doze signos do zodíaco em busca de si mesmo.
Apontando nesta mesma interpretação, Vernant e Naquet nos lembram que Édipo (Oidipous) também pode desdobrar-se em Oida (= eu sei) e Pous(= pé), significando, portanto, aquele que sabe, que conhece o enigma do pé.
Assim, em seu nome temos não o sentido psicanalítico, mas a restauração de uma certa concepção de homem e do mundo caracterizada pelo mistério.

Tudo isso nos leva, ainda, a refletir sobre o nome de Édipo e seu entrelaçamento com a trilha do homem em seu mundo.
Sendo Édipo aquele que “sabe o pé”, é o único que pode responder ao enigma da esfinge, que lhe impede a passagem, condicionando o prosseguimento de seu caminho à resposta de um enigma, e diz: “Responda ou te devoro: o que de manhã tem quatro patas, ao meio-dia duas, e à tarde três?”
Édipo se reconhece homem e responde:
“O homem”. Ele pode passar diante da esfinge que é meio-animal e meio-homem. Assim, Édipo assume sua “liberdade humana” por saber-se meio-animal e meio-homem.
Mas é justamente quando tenta se colocar como a medida de todas as coisas, no auge de seu orgulho, que o homem se descobre vítima de forças que o transcendem e das quais se tornou mero joguete, tornando impossível qualquer ilusão de verdade absoluta; que desautoriza, nesse sentido, qualquer fundamento possível para uma dominação despótica.
Dominação esta, não só do mundo, mas de si mesmo e de seu destino.

Na verdade, o único “pecado” de Édipo é seu orgulho inabalável que o obriga a ir até o fim, a desafiar o desconhecido, região insondável dos desígnios divinos.

Assim, podemos também olhar a relação do homem com seu mapa natal. Temos a capacidade e autonomia de distanciarmos-nos de nosso destino, de nosso mapa, tornando-nos alheios a nós mesmos; mas isso não nos garante, e muito menos, nos dá nossa liberdade.

Aqui se torna mais clara a importância de estudarmos e conhecermos nosso próprio mapa natal. Não somos separados do universo; pois se assim quisermos seremos diverso. Nossa liberdade está em assumir nossos limites; em cumprir nossas necessidades.

A maior liberdade é tornar-se a si mesmo.

Para encerrar, podemos lembrar que, ao final da tragédia, Édipo fura seus próprios olhos na intenção de redimir-se de seus atos, de se redimir da tentativa de querer guiar-se por si mesmo. Pois aquele que quis conhecer, ultrapassou seus limites; ou melhor, não reconheceu seus próprios limites.

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