segunda-feira, 30 de março de 2009

A liberdade de interpretação dos símbolos astrológicos

Para verdadeiramente compreender os símbolos astrológicos, devemos estudar a constituição destes.

Se quisermos formar uma mente astrológica, devemos nos acostumar a articular os diferentes princípios que compõe a simbologia astrológica. Somente assim poderemos nos livrar da visão taxativa que se tem da astrologia.

O estudo destes princípios nos leva a formar uma mente astrológica longe do nível meramente informativo; isto é, de decorar definições rígidas, que se mantém muito distante de uma interpretação verdadeiramente simbólica.

Se nos mantivermos no simples “conceito de dicionário” estaremos fadados a utilizar as informações astrológicas com parcialidade; prender-nos-emos em tendências fixas, sem compreendermos a fluidez e flexibilidade dos conceitos envolvidos.

Aprofundando-nos nos fundamentos de cada símbolo, estaremos inclinados a exercitar a astrologia dialógica, na qual a interpretação torna-se atual e viva.


Os signos são formados pelos: elementos e modos de ação.

Os elementos, por sua vez, são compostos pelas qualidades primitivas: quente – frio; úmido – seco.
Os modos de ação: cardinal, fixo e mutável

Os planetas são formados pelos modos de orientação.

Os modos de orientação: o círculo, a cruz e o crescente


As casas são divididas a partir de cálculos referentes aos pontos cardinais e trajetória solar (dia e noite)

Os aspectos são relações geométricas

domingo, 29 de março de 2009

AFORISMA: do dialógico II

A interpretação segue o nível do interpretador.

annick de souzenelle

quarta-feira, 25 de março de 2009

AFORISMA: do dialógico

em homenagem ao mestre: Ricardo Rizek

o centro de um mundo
é periferia de outro.

terça-feira, 17 de março de 2009

CALENDÁRIO ASTROLÓGICO

Adotar o estudo da astrologia não é procurar tornar-se um guru-esotérico ou um mago-vidente que pretende desvendar os acontecimentos do futuro.
Muito pelo contrário, adotar o estudo da astrologia é procurar participar do tempo presente de maneira “dialogal”.

A astrologia nasceu como um calendário, com o qual, diversos povos, acompanhando o movimento da lua e do sol, orientavam-se no tempo.
O tempo antigo, diferente do tempo de hoje, era um tempo cíclico. Este tempo era marcado pela revolução dos astros, que retornavam ao ponto de partida; mantendo, assim, o homem sempre perto da “origem”. O melhor exemplo para entendermos isso são as fases da lua:
A lua inicia seu ciclo na fase crescente, passando pela lua cheia, seguindo sua progressão para a fase minguante e finalizando seu percurso na lua nova. A revolução dos astros é o retorno ao princípio de seu próprio ciclo.

O tempo moderno adota um calendário arbitrário; ou seja, criado e iniciado pelo homem a partir de sua marca cultural no mundo, que se sustenta por correções matemáticas, e segue em uma soma ao infinito; ex: 2001, 2002, 2003 etc.
Não se trata, aqui, de menosprezar ou se desfazer da relevante marca inicial de cada tempo (judaico, cristão, islâmico, etc.), mas tenhamos em mente que todos estes calendários se apóiam, ajustam-se, ou mesmo corrigem-se através do transito dos astros – em especial o sol e a lua; ex: o calculo do ano bissexto.

Adotar a astrologia como medida de tempo (calendário) proporciona à consciência humana uma experiência de pertencimento e participação integrada ao universo. O calendário astrológico está em oposição ao tempo adotado pelo mundo atual.
Este calendário que nos orienta atualmente leva-nos a um distanciamento de nosso próprio mundo, chegando até ao limite de colocar o homem em uma franca guerra contra sua própria habitação – em sua ânsia de dominá-la e utilizá-la para seu próprio lucro e proveito.

O tempo cíclico da astrologia não é um tempo repetitivo, no qual sempre estaremos novamente no “mesmo lugar”, pois os astros nunca repetem sua configuração.
Assim, por mais que possamos encontrar, por ex., dois dias seguidos em que o sol esteja em peixes e a lua em sagitário, nunca será o mesmo tempo presente, pois, eles não estarão nos mesmos graus (medida de 0 a 30 em cada signo) de um dia para outro – criando assim, necessariamente, uma nova e diferente configuração.
Mas mesmo que no ano seguinte, possa por acaso, estarem o sol e a lua nos mesmos graus coincidentes; os demais astros não estarão ocupando o mesmo posicionamento do ano anterior (ou de qualquer data). E, com isso, teremos uma configuração totalmente única e singular. Sem qualquer repetição.
Já não podemos afirmar a mesma coisa do calendário de nosso tempo atual, que, distante da reverberação do significado inicial de suas datas festivas, sofrem de uma repetição linear (e não cíclica) das datas comemorativas do mercado – ex: dia das mães; dia dos pais; dia dos namorados; e, até o natal já significa somente o aquecimento do mercado em sua finalização de mais um ano.

Se podemos afirmar algo a respeito do tempo e sua relação com a consciência humana, é que o tempo nunca se repete. E é justamente isso que possibilita ao homem a abertura para uma disposição “dialogal”.
A astrologia dialógica é uma proposta de relação do homem para com seu tempo presente, na qual o homem não procura predizer ou assegurar um futuro, mas sim, abrir-se ao diálogo consigo e seu mundo, respondendo ao seu tempo presente de maneira harmônica, integrado ao universo. Sem ser diverso.
O tempo cíclico da astrologia nos permite mais facilmente conhecermos-nos como somos, seguindo em espiral, com suas gradações e continuidades de significados.

A astrologia como medida de tempo não mais tomará uma data arbitrária ao universo, como por ex. na formulação: dia 17 de março de 2009; mas sim, promoverá uma compreensão mais simbólica e criadora de sentidos dos dias que vivemos, que se desdobram para além de uma mera data burocrática e árida, que não ultrapassa o sentido do salário mensal.

quinta-feira, 12 de março de 2009

ÉDIPO: o homem e a astrologia

Trago a tragédia de Édipo rei para proporcionar uma reflexão a respeito do homem e sua relação com a trajetória zodiacal. Assim poderemos, também, refletir sobre o mapa astrológico.

Mas para isso, vamos direto ao destino do herói. Édipo, filho de Laio e Jocasta, teve seu destino previsto pelo oráculo: “matará seu pai, desposará sua mãe, e seu reinado será amaldiçoado.”.

Diante de tal profecia, seu pai toma uma atitude radical; matar seu próprio filho. No entanto, sua mãe não podia aceitar tal sacrifício e entrega seu filho a um serviçal, para que este o levasse para longe.

Édipo foi achado por um pastor. Este seguiu sua jornada até chegar a uma cidade distante, na qual, foi adotado pelos reis desta, pois sua rainha não podia ter filhos.

Ao crescer, Édipo consulta o oráculo e escuta seu destino. Decide então abandonar a cidade para fugir de sua tragédia, tomando em suas mãos o rumo de sua história.

A tragédia de Édipo nada tem a ver com a psicanálise, é necessário dar a palavra aos helenistas (Jean-Pierre Vernant e Pierre Vidal-Naquet) para descobrir o que constitui e move a tragédia. Estes autores nos mostram que em seu drama, Édipo é ao mesmo tempo vítima e autor de sua história.

Sua vontade obstinada, seu desejo de conhecer a verdade não o livra de descobrir, ao fim da tragédia, que do princípio ao fim ele foi um joguete de seu destino. E, no momento em que se reconhece como autor responsável de sua desgraça acusa os deuses de terem tudo preparado.

Aqui temos uma boa abertura para reflexão da relação entre o mapa natal e o indivíduo que o carrega. A configuração de um mapa é um destino a cumprir, do qual podemos nos alienar e distanciar por “vontade própria”; mas temos que estar ciente que os deuses nos cercam, e a todos os momentos somos cobrados (influenciados por nosso mapa natal) a realizar nosso destino.

Édipo esta tentando o tempo inteiro apropriar-se de suas ações, assumir a responsabilidade perante elas, para descobrir, no final, que nada mais fez do que cumprir o seu destino – uma necessidade imperiosa.


Mas a tragédia de Édipo trás a tona outra reflexão sobre o mapa natal e o indivíduo. A intersecção de dois discursos: o discurso humano e o discurso divino.
O homem inicialmente sofre as influências de seu mapa, mas, como em uma “adolescência”, em uma contestação (colocando-se contrariamente aos desígnios assinalados no mapa natal) pode seguir um rumo apartado de sua origem. Assim, neste momento, as duas falas serão distintas, mas irão se sobrepondo até que, no final, o discurso humano contraria a si mesmo.

Podemos voltar à tragédia de Édipo e ver que, mesmo tentando fugir da profecia do oráculo, buscando seguir um rumo distinto do professado, Édipo acaba realizando seu destino, pois, desconhecia sua verdadeira origem. E, ao seguir um rumo que o levasse para longe de seus pais, acabou, na verdade, por entregar-se a sua tragédia.

Para aprofundarmos o entendimento da relação entre o homem e a astrologia, devemos pegar a etimologia do nome de Édipo.

Édipo significa o de “pés inchado”. Isto porque foi pendurado pelos pés em uma árvore (permanecendo de ponta-cabeça). – temos aqui nosso nascimento: separados do Todo (Peixes - pé) tomamos corpo individual (Áries - cabeça) e nascemos. Chegamos a este mundo de ponta-cabeça. Em algumas tradições, este mundo representa o ‘mundo de cima’ de maneira invertida.
Se o primeiro signo do zodíaco (Áries) representa a cabeça, permanecemos sem consciência de nossos pés (Peixes – origem). Assim, a tarefa do homem é percorrer os doze signos do zodíaco em busca de si mesmo.
Apontando nesta mesma interpretação, Vernant e Naquet nos lembram que Édipo (Oidipous) também pode desdobrar-se em Oida (= eu sei) e Pous(= pé), significando, portanto, aquele que sabe, que conhece o enigma do pé.
Assim, em seu nome temos não o sentido psicanalítico, mas a restauração de uma certa concepção de homem e do mundo caracterizada pelo mistério.

Tudo isso nos leva, ainda, a refletir sobre o nome de Édipo e seu entrelaçamento com a trilha do homem em seu mundo.
Sendo Édipo aquele que “sabe o pé”, é o único que pode responder ao enigma da esfinge, que lhe impede a passagem, condicionando o prosseguimento de seu caminho à resposta de um enigma, e diz: “Responda ou te devoro: o que de manhã tem quatro patas, ao meio-dia duas, e à tarde três?”
Édipo se reconhece homem e responde:
“O homem”. Ele pode passar diante da esfinge que é meio-animal e meio-homem. Assim, Édipo assume sua “liberdade humana” por saber-se meio-animal e meio-homem.
Mas é justamente quando tenta se colocar como a medida de todas as coisas, no auge de seu orgulho, que o homem se descobre vítima de forças que o transcendem e das quais se tornou mero joguete, tornando impossível qualquer ilusão de verdade absoluta; que desautoriza, nesse sentido, qualquer fundamento possível para uma dominação despótica.
Dominação esta, não só do mundo, mas de si mesmo e de seu destino.

Na verdade, o único “pecado” de Édipo é seu orgulho inabalável que o obriga a ir até o fim, a desafiar o desconhecido, região insondável dos desígnios divinos.

Assim, podemos também olhar a relação do homem com seu mapa natal. Temos a capacidade e autonomia de distanciarmos-nos de nosso destino, de nosso mapa, tornando-nos alheios a nós mesmos; mas isso não nos garante, e muito menos, nos dá nossa liberdade.

Aqui se torna mais clara a importância de estudarmos e conhecermos nosso próprio mapa natal. Não somos separados do universo; pois se assim quisermos seremos diverso. Nossa liberdade está em assumir nossos limites; em cumprir nossas necessidades.

A maior liberdade é tornar-se a si mesmo.

Para encerrar, podemos lembrar que, ao final da tragédia, Édipo fura seus próprios olhos na intenção de redimir-se de seus atos, de se redimir da tentativa de querer guiar-se por si mesmo. Pois aquele que quis conhecer, ultrapassou seus limites; ou melhor, não reconheceu seus próprios limites.

terça-feira, 10 de março de 2009

OS ELEMENTOS II


o fogo é a semente
o ar a polinização
a terra gesta e faz germinar
a água é a alimentação

PRONOMES


fogo: eu
terra: meu
ar: nosso
água: ...dissolução do ego

AFORISMA: construção


De nossas mãos nascem a criação
a produção oferece a face à iluminação
de sua forma sobra a sombra

sua imagem uma ocultação

Tudo que constroi cria sombra

AFORISMA: o carma



O carma encarna nossa resolução

OS ELEMENTOS


fogo: o si-mesmo

água: os sonhos

ar: a ponte entre realidades

terra: a concretude da realidade

" O rio adentra uma terra e a umidesse; a terra molhada gera uma estrada que toma direção orientada pelo ar; o fogo estimula a movimentação da massa e seca a obra."

sexta-feira, 6 de março de 2009

TORNAMO-NOS NOSSO ASCENDENTE DEPOIS DOS 40 ANOS DE IDADE?




Essa pergunta é muito recorrente para aqueles que já ouviram alguma coisa sobre astrologia, ou mesmo por pessoas que tem maior intimidade com o assunto.

Por isso, mas principalmente por esta pergunta nos levar a uma reflexão mais ampla sobre um mapa natal e seu funcionamento, é que vou apresentar uma reflexão sobre este tema.

Primeiro, destaco o fato curioso de tomarmos os “40 anos” como uma mudança igual para todos. Isso contradiz a perspectiva apresentada no “Texto inaugural” e no “O que é dialógico?”.

Mas para tentar responde esta pergunta, gostaria de afirmar algumas coisas importantes sobre a carta natal (mapa astral). Quando alguém fala: “eu sou leão; tenho tais e tais aspectos; portanto, isso é muito bom ou muito ruim...etc.”, esta pessoa acredita que recebeu algo (bom ou ruim) e então já está tudo dado.

Não é assim que devemos encarar uma carta natal. Cada um de nós tem um mapa, e este mapa não “funciona” por si mesmo. Somos agentes e atores de nós mesmo; ou seja, nos tornamos aquilo que fazemos. Mimetizamos-nos àquilo que nos afeiçoamos (estudar a lua).
Um modo mais claro de tentar apresentar esta idéia é relembrando que, apesar de qualquer pessoa ter uma carta natal, esta será estimulada e desenvolvida através de seu meio.
Ex: se alguém nasce em condições de pobreza (material ou cultural) terá suas potencialidades limitadas por esta condição – a princípio. Por nascermos em uma determinada família (social ou espiritual) teremos como ponto de partida esta “visão de muno”.
A partir de então, teremos nossas qualidades potenciais inclinadas para esta “visão de mundo”.
Mais um exemplo: se duas pessoas tem suas luas no signo de câncer, isso não significa a mesma coisa para ambas, pois deveremos considerar os signos de seus pais, se eles estão vivos ou mortos, etc.
Com isso, quero afirmar que a qualidade de suas experiências serão, necessariamente, distintas.
Sendo assim, um mapa astral será “conduzido” por seu agente/ator (pessoa “possuidora” do mapa em questão); por mais que padeçamos (sofrer passivamente) das qualidades da carta natal. – ver “O que é dialógico?”.

Um mapa astral não está “dado”, muito pelo contrário. Nós devemos conquistar a nós mesmos, ou seja, nos tornar aquilo que somos, orientados por isso que chamamos de “mapa”.
O nosso signo solar não é aquilo que somos, mas sim aquilo que devemos conquistar e vir-a-ser.
Inicialmente, e por toda a vida, respondemos reativamente à nossa própria carta natal, partindo de nossas necessidades básicas; ou seja, Lua e Marte. Isso é tão intenso que podemos passar a vida toda sem conseguirmos acessar nosso próprio Sol (signo solar).


Tendo essas questões em mente, podemos voltar à pergunta: “tornamo-nos nosso ascendente depois dos 40 anos de idade?”
A resposta tem que ser SIM e NÃO.
Sim, porque o ascendente é nossa via de expressão e “saída” para o mundo (dentre muitas outras definições). Assim, estamos a todo e qualquer instante nos valendo de nosso ascendente para acionar e estimular nosso próprio mapa. Com isso, vamos-nos “tornando” nosso ascendente por uso e por “afeiçoamento”. Acostumando-nos a ser desta maneira.
Não, porque o ascendente é um dos diversos componentes de uma carta natal. Assim, por mais que seja de fundamental importância para a manutenção de nossa própria existência, não dependemos somente do ascendente. Nossa fonte de vitalidade emana exclusivamente do Sol, então, o ascendente deve ser uma via que alimente esta fonte, mas não o centro de nosso ser.

Para concluir, quero ainda ressaltar que o ascendente torna-se muitas vezes o ponto de onde nos “centralizamos”. Esta “centralização” muitas vezes acaba trabalhando de maneira defensiva, atuando conjuntamente com a Lua e Marte, provocando um afastamento cada vez maior de nosso próprio Sol.

Obs: quero deixar expresso que este tema não é tão simples e básico, nem mesmo para estudiosos da astrologia; e então, deixo uma recomendação de leitura que pode auxiliar no aprofundamento deste tema:
RODA DA FORTUNA – Martin Schuman; editora Agora; 1988

quinta-feira, 5 de março de 2009

AFORISMA: ser ou não ser



Todo mundo é normal até que se torne a si mesmo

apresentação básica dos componentes de um mapa natal



Os signos são os padrões primários de energia e indicam qualidade de experiência específica

Os planetas regulam o fluxo de energia e representam as dimensões da experiência

As casas representam as áreas de experiência nas quais energias específicas se expressam com mais facilidade e são encontradas de forma mais direta

Os aspectos revelam o dinamismo e a intensidade da experiência, bem como a forma de interação das energias dentro da pessoa

fonte: Stephen Arroyo

AFORISMA: atividade X passividade da alma



A imagem é uma força do corpo.
Seria uma força da alma se esta, ao imaginar, soubesse que imagina

segunda-feira, 2 de março de 2009

O QUE É DIALÓGICO ?



O termo dialógico adotado por este blog refere-se a uma disposição do homem de estar aberto ao diálogo para-com-seu-próprio-mundo; aberto ao encontro para-com-um-outro.


Dialógico, aqui, tem inspiração na concepção oferecida por Martin Buber. E para que nos torne clara esta concepção, devemos passar às palavras do próprio Martin Buber.


Em um das passagens de seu livro “Do diálogo ao dialógico”, este existencialista religioso nos diz: “É válido distinguir três maneiras pelas quais podemos perceber nosso mundo (e não estou me referindo a um objeto científico).”


O primeiro é o observar, e prossegue em sua exposição: “O observador: concentrado em gravar na sua mente o que observa....Se empenha em desenhar tantos “traços” quanto possível. O objeto (de relação) é constituído de traços e sabe-se o que está por trás de cada um deles....assimila sempre de imediato as novas variações...e ele permanece utilizável”


Em seguida nos fala do contemplar: “O contemplador não está absolutamente concentrado. Ele se coloca numa posição que lhe permite ver o objeto (de relação) livremente e espera despreocupado aquilo que a ele se apresentará. Só no começo pode ser governado pela intenção, tudo o que se segue é involuntário. ... não é temeroso de esquecer alguma coisa. (“esquecer” é bom diz ele). Não impõe tarefas à memória...não recolhe como faz o observador.”


Estas distintas disposições não se distinguem tanto quanto, a primeira vista, pode nos parecer, pois: “O observador e o contemplador têm em comum o fato de terem a mesma posição: o desejo de perceber – o homem que vive diante dos olhos, tem para ele o objeto separado dele próprio e de sua vida pessoal, que justamente e apenas por isso pode [o objeto] ser percebido de “uma certa maneira”. O que eles experienciam...não exige deles nenhuma ação e nem lhes impõe destino algum; pelo contrário, tudo se passa nos campos distantes (de si mesmo).”


Sendo assim, Buber nos diz que tudo se passa de uma outra maneira quando: “...nos dispomos àquilo que se oferece, sem dizer ao objeto (de relação) o que ele deve nos dizer. É aquela “alguma coisa” que o diz.”.


“Dizer”, segundo este grande mestre, não á uma metáfora, mas sim um compartilhamento íntimo do conhecimento: “O efeito de ter sido o receptor deste dizer é totalmente diferente do efeito de observar e de contemplar...não se pode retratar, nem descrever. Tentá-lo fazer já seria o fim do “dizer”, pois não se pode tomá-lo como um objeto distante de si mesmo. E, talvez tenha que se contentar apenas em aceitar aquilo que é oferecido, ou dito...Nesta relação, tudo que temos que fazer é encarregarmos-nos de responder. E esta resposta chamemos de “tomada de conhecimento íntimo”.


De uma outra maneira poderíamos falar de um conhecer a si através do objeto (de relação) e conhecer o objeto em si, em uma relação íntima. E por isso Buber ressalta que: “Os limites de possibilidade do dialógico são os limites de possibilidade da tomada de conhecimento íntimo.”


Portanto, “O dialógico não se limita ao tráfego dos homens entre si; ele é um comportamento dos homens um-para-com-o-outro...assim sendo, ... há um elemento indissolúvel: a reciprocidade da ação interior.” E prossegue dizendo que: “O homem disposto à abertura dialógica deve estar voltado para seu mundo, e com ele se relacionar intimamente, não inportando com que medida de atividade, ou mesmo consciência de atividade.”


Buber nos alerta para a sutileza e dificuldade de tal disposição: “Cada um de nós está preso a uma couraça, cuja tarefa é “proteger” e repelir [aquilo que se nos oferece ]...preso numa couraça, que graças a força do hábito, logo deixamos de sentir.” E prossegue :“Aos instantes que atravessam a couraça à receptividade da alma, logo dizemos: o que aconteceu? Não era algo semelhante ao que acontece todos os dias? Os eventos do mundo são palavras que me são dirigidas, mas só quando os esterilizamos é que posso compreender...como uma parte dos evento do mundo, que não me diz respeito...”


A disposição dialógica é refreada por nós mesmos, pois nossa cultura ocidental não é acostumada aos desencontros e incertezas. Nós ocidentais precisamos estar sempre conscientes daquilo que nos acontece, só que no entanto, este “estar consciente” é um distanciamento do objeto (de relação):


“Mas para aquilo que me toca intimamente e cria-se um estranhamento, logo recorre-se à companhia de adivinhos...para buscar orientar-me: O que é isto? O que tenho que fazer? ...E a consulta tem que ser “para sempre”, com regras, leis, e certezas. Mas tudo isso é um grande falso saber.


“O verdadeiro conhecimento se dá quando cesso de consultar os dicionários. Pois o que me acontece diz algo a mim, e só em minha relação íntima é que este significado pode surgir”. E se não surgir, permanecerá até que a sua própria resposta tenha-se dado; não por ato de decisão, mas por ato de conhecimento íntimo.

Para finalizar este esclarecimento do que este blog entende por dialógico, é preciso dizer que o homem deve assumir sua responsabilidade perante o seu próprio mundo. E responsabilidade, como nos diz Buber: “É o responder àquilo que nos é oferecido, (e) que nos acontece.”

sugestão de leitura: EU e TU; Buber, Martin; editora centauro

domingo, 1 de março de 2009

TEXTO INAUGURAL



O que é a astrologia dialógica?


Antes de apresentar o que compreendo por “astrologia dialógica*” é preciso que tenhamos em mente que não devemos olhar a astrologia como fonte de adivinhação ou determinação dos fatos de maneira fatalista.

O SISTEMA ASTROLÓGICO: é como uma orquestra. Seus diversos elementos são instrumentos que ditam e tocam a partitura. Como a música, todos os elementos criam ressonâncias uns nos outros, compondo assim uma sinfonia: música.

Assim como na música não há uma única maneira de ouvi-la, pois, podemos nos atentar para cada instrumento em execução isoladamente, tentar ouvir o todo (e mesmo assim priorizar determinado compasso, comparar diferentes instrumentos etc.), ou mesmo realizar uma verdadeira análise harmônica. Na astrologia podemos realizar semelhante percepção.

Os astros são efêmeros em suas posições. Como as notas, seguem uns aos outros, e vão variando de posicionamento entre si, criando vibrações harmônicas distintas e únicas, proporcionando ritmos, vibrações e temperamentos.

Mas quando pensamos em um mapa natal (mapa astral), temos nele uma partitura pronta e fechada em si mesma, que, entretanto, passa a ser orquestrada e interpretada por seu agente: a pessoa em questão.


Para compreendermos o pensamento astrológico, devemos entender que a astrologia olha o cosmos do ponto de vista do planeta terra, e em última análise, a astrologia não trata dos astros; mas sim do homem que vive na terra, inserido na totalidade cósmica.

O Homem pertence ao “quadrado ontológico”: o céu, a terra, os deuses e o homem. Seu papel é interpretar sua própria existência, em constante e viva troca com o cosmos, participando de seus processos cíclicos.

O transito dos planetas ao redor do sol percorre uma elíptica que transcorre os doze signos. No entanto, as divisões em 12 signos de 30 graus do circulo do zodíaco não tem nenhuma ligação direta com as constelações, mas referem-se à trajetória do sol.

As constelações de estrelas fixas/signos (pelas quais percorrem os planetas) não correspondem aos signos do zodíaco. Suas proporções são desiguais, e nem sempre se encontram em um posicionamento exato. Mas se olharmos para o céu, encontraremos todas constelações que dão nome aos signos.

A influência dos signos se dá, na realidade, por conta da trajetória do sol, que passa pelos pontos cardinais (equinócios e solstícios), independente de estar exatamente na constelação referente a determinado signo. Poderíamos dizer, então, que não são as constelações que emitem as qualidades dos signos, mas sim o transito solar através da trajetória destas constelações fixas.
Mas então, como foram determinados os signos?

Quanto à determinação dos signos, devemos relembrar o que foi dito logo acima: a astrologia trata do homem e sua consciência. Portanto, os signos referem-se muito mais à projeção humana no cosmos de seu próprio mundo, que efetivamente das constelações. Esta projeção retorna ao homem em um diálogo para o próprio homem. É um processo de emissão e recepção, invocação e evocação.

Assim, a divisão do zodíaco não se origina somente no céu, mas também na imaginação da humanidade. Portanto, do ponto de vista esotérico, a astrologia é relacional, criado pela própria humanidade.

Desta maneira, podemos afirmar que a astrologia reflete a vida do homem imerso em sua condição primária de nossas psiques (pensamento e sentimento). Enquanto nosso ser espiritual permanece livre e intocado da influência astrológica. Pois nós temos um mapa natal, mas não somos ele.

No entanto, é através das vibrações planetárias que o homem avança em seu desenvolvimento espiritual, pois as influências dos signos e planetas continuam reais para humanidade.

Somos o microcosmos do macrocosmos. No centro do circulo zodiacal, ao redor do qual estão dispostos os planetas que percorrem pelos signos, realizamos nossa existência. O pensamento ocultista tradicional localiza a liberdade humana num nível que transcende o psicológico, atribuindo ao psiquismo a tarefa de relacionar-se com a existência (mapa natal).


Temos agora, então, mais uma dificuldade para compreender o pensamento astrológico: como é possível a astrologia ser dialogal, mas ainda assim ter conceitos fixos (signos planetas e casas terrenas)?

Se os signos, planetas e casas, a princípio, podem ser vistos de uma maneira que nos parece pouco humana, ou seja, mecânico/fatalista; e nosso mapa natal é a expressão da composição destes componentes e sua configuração, temos que admitir o seguinte princípio:

O psiquismo é muito mais um elemento reativo e mecânico que criativo, e é justamente através de nossa composição, dos componentes e configurações de nosso mapa, que nos aproximamos da natureza.

Assim, os tipos de movimentos representado nas qualidades dos signos, planetas e casas terrenas, se correspondem a natureza (mineral, vegetal, animal e hominal); e esta é a base para todo tipo de correspondência entre a astrologia e os seres

Nos homens, os diversos tipos de movimento não ocorrem, na maioria das vezes, de forma evidente, pois há outros fatores em jogo em sua existência.

O Homem está situado entre duas rodas, a roda do destino e a roda do livre arbítrio, e, a princípio, não pode ditar a partitura dos astros. Mas se quisermos, atuando ativamente no auto-conhecimento de si mesmo, através da leitura de sua própria carta natal, podemos aprender a ler nossa “partitura”, e assim, reger co-ativamente nosso próprio mapa natal.

Todas as idéias aplicadas à interpretação do mapa natal mostram que o psiquismo humano é mecânico, em sua maior parte, e que tem leis e movimentos definidos. Desta maneira, podemos afirmar que o psiquismo não é tão subjetivamente indefinível como se poderia desejar ou imaginar. – o mapa astrológico dá uma visão bem organizada sobre o psiquismo de cada indivíduo, ao menos em sua maior parte.



Estas idéias expostas até aqui revelam duas maneiras de lidar com o psiquismo humano. Uma que entende as reações do psiquismo como mecânicas; e uma segunda que envolve a transformação da reação psíquica. Isto porque os signos, planetas e casas terrenas são fixos em sua maneira de ser, mas a base em que se assentam (seus fundamentos e constituição) trazem um potencial transmutativo, que liberta a astrologia da sina de oráculo de adivinhação, e a coloca como um conhecimento relacional. E é isto que chamo de astrologia dialógica.

A visão mecânica e matemática da astrologia facilita uma definição racional de sua natureza, mas o pensar astrológico não é nem lógica científica, nem é feito de analogias poéticas ou metáforas. Não se deve abordar os signos, planetas e casas como conceitos psicológicos. O pensamento astrológico faz sim o uso de segmentos lógicos, de valores analógicos e conceitos psicológicos, mas não se resumem ou identificam-se com estes. O pensamento astrológico tem uma visão mais universal do que estas.

O mais importante no contato com astrologia é formar uma mente astrológica. Decorar e estudar sua parte analítica são de fundamental importância, mas a mente astrológica não separa nem divide; surge da intuição e compreensão não-racional da interação do “Um-Todo” com tudo. Ao desenvolver a mente astrológica, a pessoa torna-se um astrólogo, modificando sua percepção da existência.

Sem uma compreensão dialógica da astrologia, a pessoa está fadada a utilizar-se das informações astrológicas com parcialidade, para dar vazão pessoal de sua própria visão da vida.

Para tornar-se um astrólogo é necessário possuir uma percepção astrológica de si e do mundo; isso consiste em deixar de ver as coisas segundo a própria percepção subjetiva em nome da compreensão de que existem outras maneiras de viver e experienciar a manifestação, sendo capaz de entender outras maneiras de expressão de vida.

Assim, para tornar mais claro o conceito de astrologia dialógica, temos que ter ciência de que os fatores psicológicos em jogo são mutáveis e não absolutos, em uma diversidade infinita de composição, gerando diferentes coloridos e temperamentos.

A astrologia dialógica convoca a manter-nos aberto aos conceitos astrológicos, sem reduzi-los a conceitos fechados e reduzidos, como também, a nos atentar para a composição singular de um mapa natal.

Por tudo isso, não podemos realizar uma verdadeira leitura de qualquer mapa natal sem estar em diálogo com o individuo para o qual será realizado a interpretação do mapa. Pois, é de fundamental importância considerar seu modo de ralação com a vida e seu mundo.